quinta-feira, 28 de julho de 2016




A FELICIDADE NUNCA SERÁ, SE NÃO FOR AGORA.

“...para um dia eu ser feliz! ”
Essa é uma ilusão que alimenta o instinto de sobrevivência. O ser espera, ao invés de proporcionar, por falta da própria observação e abnegação das imposições.
A felicidade não é um estado constante. Só existe felicidade se você der e receber amor. Não só para as pessoas, mas para tudo nesse universo. Só conseguimos sentir felicidade quando nos conectamos com a beleza que há em tudo e ao invés de sentir medo, ao invés de recuar diante do que parece novo, deixarmos fluir e se embrenhar no sentimento que essa conexão proporciona. Por exemplo: não amamos nossos pais. Só existe amor pelos nossos pais quando estamos diante deles, num momento de harmonia, e quando pensamos neles com o sentimento puro de admiração. Nesse momento, estamos emanando energia para eles. E eles, ao sentirem-se bem, emanam de volta.
Quando você está pensando, concentrado em seu trabalho, por exemplo, seus pais não existem. Não existe conexão com eles, portanto, não há amor.
O ser humano aprendeu que ao começar uma relação, existe uma relação de amor. Mentira!
É preciso repensar essa condição. Pois pensando assim, relaxamos e continuamos desconectados. Permanecemos presos no conceito de que se está numa relação de amor, pura e simplesmente. Acreditar, sentir e compreender que amar é conectar-se com o pensamento ou com os sentidos: ver, tocar, abraçar, ouvir, cheirar, faz com que procuremos mais essas conexões, uma vez que saberemos: sem estas conexões, não existe nem a relação.

Toda existência que você acredita existir, só existe quando pensamos nela. Façamos uma experiência mental: ao perder gradativamente os sentidos, o olfato, a visão, o tato, o paladar e a audição, nada passa a existir. Por isso não amamos quando não estamos com os sentidos ligados em alguém ou em alguma coisa. Amar é produzir a felicidade, portanto, amemos agora se quisermos ser felizes agora.


Marcos Gacê

quarta-feira, 18 de novembro de 2015



COISAS DE 17 ANOS

Não sei se é preguiça, descrença ou covardia, mas a palavra não sai. Ela sequer pula em suicídio, do alto do meu dilema, para ao menos se estatelar no chão e como vítima, satisfazer os moralistas que acordaram cedo, que se desviaram de seus empregos e seus assaltos, atraídos pelos meus pasquins de hipocrisia.
Mas como todo ímpeto de renúncia parece precedido de um naco de luz ou treva, alguém me interrompe, no exato momento em que um de meus pés paira no ar de minha ribanceira existencial:
- Eu estava fazendo coisas de menina de 17 anos!
Eu já tive 17 anos. Mas não lembro o que fiz com a menina que existia em mim.
De que adianta ser um homem cheio de compartimentos, gavetas, pavilhões e calabouços se não sei o que fiz da menina que, hoje sei, me completaria?
Por anos expressei supostas e inconscientes respostas e, talvez por isso, uns me chamam, poeta. Por verem sair do meu portão central, algumas vezes por ano, zumbis estéreis para cumprir suas liberdades condicionais. Por testemunharem a saída, desse presídio que sou, de anciãs que cumpriram uma pena que inventei. Inventei porque ela não sai.
Qual o delito da menina que vivia em mim? Por que ela não sai?
Com o chicote de Deus e a espada da justiça nas mãos, trancando portas a falo e gritos, contendo rebeliões e motins venusianos, do que adiantou ser o rei menino por tanto tempo?
Cadê a menina? Quem é o condenado agora?
E foi aí que a “ocupada” me disse sem abrir a boca. Com os olhos que só uma menina de dezessete anos pode ter:
- Não adianta abrir a porta hoje. Meninas viram mulheres ou morrem. A sua, aquela que não sai, foi morta pelo seu cárcere social.
- Só os poetas de verdade conseguem voltar no tempo de suas meninas para devolver a elas, suas coisas dos dezessete anos.


Marcos Gacê

domingo, 22 de março de 2015

FARPA DE VIDRO



Minha felicidade é daquelas companheiras que ao chegar à festa ou ao bar, escolhe seu canto e de lá, observa quem bebe, quem fuma, quem beija, quem come, quem some, quem urge, quem suja, quem bole, quem rouba, quem devolve, quem dança, quem cansa, quem compra, quem doa, quem chega e quem vai.
Às vezes vou embora furtado de pudor ao carregar o espólio dessas guerras noturnas e nem percebo que a deixei por lá. E ela fica. Fica para observar e tomar nota daquilo que nem imagino ser possível existir. Mais tarde, em letargia, ouço o ranger de portas e a presença daquele calor que só faz no outono da metade das nossas vidas. Ela se deita, com a maestria de quem não quer me acordar...
Outro dia, nos aprontando para mais uma noitada, calçando os sapatos, tive coragem de perguntar o que a muito me atormentava. Um paradoxo por sinal. Após tantos anos na árdua missão de me servir, seria minha felicidade, feliz?
Ao virar, deparei-me com o vazio dos invernos que hibernam nas costelas de nossas vidas. Ela já havia tomado um táxi para chegar à frente e marcar meu lugar.
(GACÊ) Março/2015

sábado, 24 de agosto de 2013

_O DE SEMPRE SENHOR? _NÃO. TRAGA-ME O CARDÁPIO!



Era quase meio dia, hora do almoço, quando uma das paciências se esgotou.
- Gacê, Deus deve ficar triste quando te ouve falar dessas coisas. Dessas novas crenças e referencias que insultam sua doutrina e seus ensinamentos. Aceite seu Deus pai, todo poderoso e será mais feliz. Só Ele pode te dar conforto e te reservar a paz eterna. Deixe Jesus ser seu amigo e governar a sua vida – suplicava Camilo com uma veemência, verdadeiramente, tocante.
- Como pode alguém que nunca vi e nem conheço, governar a minha vida? E pelo que sei, é a única que tenho. Quem garante que deus é soberano, que criou toda a existência e a ele, todos devem obediência e temor? – questiona Gacê pacientemente.
A Bíblia sagrada – profere Camilo. Ela é a palavra e lá esta escrito!
Camilo. – Gacê inclina-se fitando os olhos de seu amigo. – você sabia que a milhares de anos atrás a divindade na terra era representada pela mulher e que, posteriormente, por uma série de descobertas e interpretações, a mulher sai de cena e dá lugar ao homem? Sabia que deus já foi representando por um falo? Sabia que a humanidade já foi e nos dias atuais, algumas tribos e ate países ainda são regidos pelo politeísmo?
O que me diz das outras religiões não cristãs e suas doutrinas tão adversas que regem, até hoje, a vida de centenas de milhões de homens em todo o mundo?
Não estou pedindo que abandone sua crença, mas seria interessante que você pesquisasse, lesse outros livros que relatam a história da humanidade sob várias óticas e instrumentos. Conheça a ciência, seus efeitos e constatações. Conheça, principalmente em outros livros, a metamorfose frenética do comportamento e do pensamento humano durante os tempos.
Bem antes da invenção da escrita o homem procura de alguma forma registrar sua cultura, sua organização social e suas descobertas. Diversos documentos, relatos, objetos, fósseis, experimentos, monumentos e principalmente, os livros, em todas as partes do mundo, durante os tempos, abrem um leque variado para interpretações livres a respeito de nossos questionamentos mais básicos.
- Eu não acredito em nada do que você está dizendo. - Camilo rejeita serrando os olhos numa incredulidade quase irônica.  – eu acredito na Bíblia e isso basta para que eu seja fiel ao meu Deus e seu filho amado, Jesus.
Gacê suspira recostando na cadeira daquele pequeno restaurante das horas dos almoços de longos 25 anos. Com as duas mãos entrelaçadas, apoiando a cabeça pela nuca, sorri e sugere ao amigo que os estômagos já deveriam estar fartos das bocas dançarem tanto e nada descer pelas goelas.
- Vamos almoçar amigo!
- Já é tempo! Diz Camilo com certo alívio e pesar!
- Posso te fazer uma pergunta? – Gacê inclina-se sobre a mesa em direção ao amigo. – Você está em uma caverna. Perdido numa mata. Há cinco dias você padece com frio, medo e muita fome. Aí então eu apareço numa noite, trazendo um pote grande com uma quente e deliciosa sopa de arroz, e lhe ofereço. O que você faz?
- Como é claro! – Camilo responde sob a fresta de um sorriso curioso.
- E que gosto tem a sopa de arroz?
- De arroz, obviamente! – Camilo sorri sob as portas escancaradas de um sorriso debochado.
- O que matou sua fome Camilo?
- A sopa de arroz do meu amigo Gacê! – Diz gargalhando como quem pergunta aonde você quer chegar com isso tudo.
- E se ao invés da sopa eu lhe trouxesse numa mochila, vários potes e neles, pedaços de frango ensopado, purê de batatas, feijão com pedaços de bacon, arroz branco, verduras frescas, porções de lombo defumado, postas de peixe grelhado, frutas frescas, chocolate e um frasco de vinho, meu amigo Camilo?
- Nossa! – Sussurra Camilo fechando os olhos em êxtase. – Eu comeria todos é óbvio!
- E qual desses sabores matou a sua fome?
Camilo paralisou o rosto e um silêncio ilustrou, talvez, o que existia antes da grande explosão ou das primeiras palavras de Deus no momento da criação. Sua duração? Talvez como a que é preciso para dar uma volta no universo ou a mesma que tem a vida eterna no céu. Um silêncio denso e paradoxal, quebrado por Camilo, numa resposta maior que a fé e menor que um átomo.

- Todos.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

ESTÁTUA QUENTE





O Problema nem é a dor, mas o calo que compromete a estética da minha vida.
Crava-me o sinal frio e traumatizado da blindagem.
Desidrata meu coração como se faz com ameixas que secas, dão charme e sabor de nada para um bolo de conveniências.
Ultimamente meu hálito é tão doce que contamina meus planos, amargando os resultados e enfadando meus alvos.
Ultimamente, quero voar como quer um carvalho enraizado.
Petrificar-me para não putrefazer em sentimentos.
E das pessoas, de todas elas, ter somente admiração que se tem de estátua. Eternamente!
É solitário sentir a morte. Seu cheiro e seu peso. Morte do sonho que ironicamente deixa o corpo vivo para o velório da alma. É inevitável a ira que brota da impotência, e frívolo, saber que desse esterco, adubo o conforto que cresce na arte, minha companheira mais fiel.


Marcos gacê

quinta-feira, 27 de junho de 2013

NEM TUDO É JAZZ!


"É possível que eu esteja, agora, nesse exato momento, me comunicando com um produto da minha mente. Pode ser que não exista nada e que tudo é produto dos meus sentidos, inclusive você que está lendo esse “hãslhhsh”. E deve estar se perguntando: como pode não existir nada fora de você sendo que estou aqui te lendo? Te respondo: tive que criar semelhantes a mim. Estranhamente a solidão persuade antes do entendimento. Mudei várias características porque seria um tédio viver comigo mesmo em todo lugar que minha mente cria para meu próprio destino.
Bom, mas vamos mudar de assunto. Preciso de uma contradição, posto que se não, vou falar o que não devo pra mim mesmo. Tudo no universo está em movimento. Aliás, dois imprescindíveis movimentos: rotação e expansão.
Duas coisas formam tudo que conhecemos: energia e matéria. Sem o movimento não seria possível a formação de nada. É o movimento que determina o encontro de partículas que formam tudo. A energia vem e cola. Uma vez que esta também é excitação de elétrons. Se eu ficar com meu braço parado, a energia e a matéria em volta dele (braço também é matéria e energia, tá?) terá um tipo de reação. Se eu movimentar o meu braço, desloco energia e partículas ao redor dele, criando uma onda de reações. Movimento. As partículas e moléculas de oxigênio, por exemplo, no arraste do braço vão empurrando suas vizinhas, criando uma onda interminável.
O que falo determina seu movimento. O que ouço de você determina o meu. O que você entende do que falo, determina que tipo de movimento você vai fazer e vice-versa. Por isso para mim não existe Deus. Não existe milagre. Assim como o cérebro aciona o sistema imunológico para produzir no corpo, glóbulos, secreções e outros tipos de defesas contra um vírus, por exemplo, ele pode também reconstituir tecidos, matar células cancerígenas, produzir mais ou menos substância e afins. Isso não acontece com frequência, pois não sabemos explorar com maior destreza o nosso cérebro, e é aí que entra a questão da fé. Daquilo que se chama de “fé”. Fé é tirar mais proveito do cérebro do que o normal, fazendo com que ele nos cure, nos faça sentir e nos faça movimentar a ponto de deslocar ondas de energia e matéria até ser montado ou construído o objeto de desejo. Ao passo que: se não pensarmos com mais eficiência não se terá fé, não se terá movimento e não se terá o que se deseja. Amém?!"
Aí o celular toca pela vigésima terceira vez. Dele, uma voz debaixo de dois edredons se arrasta já quase sem esperança: "pare de beber! “Vembora” pra casa vagabundo, você tem que trabalhar daqui a pouco, seu cretino."

Marcos Gacê

terça-feira, 11 de junho de 2013

AH! SE A VIDA FOSSE BALDEAR.


Houve um tempo em que eu andava mais de ônibus. A maioria das pessoas fazem isso quando não tem seus carros. E eu, só andava. Não era transporte, era meio de locomoção: um dos itens da derradeira cartilha da vida inventada. Uma rotina pra se cumprir. Eu era mais um pedaço de carne se locomovendo no esquema sistematizado da sociedade. O curioso é que em algum momento da “evolução” algo dá errado, ou certo demais. Deixamos de ser carnívoros para ser gourmet. De ser destinatários para ser razão de itinerários.  
Porém, esse “blá-blá-blá” tem sua compensação. Usar o ônibus não é só ficar pulando de galho em galho. É preciso apreciar o ponto. O ônibus te faz esperar, você não o controla, se tem uma estimativa de quando ele passa. No ponto é possível sentar na angústia ou na oportunidade de ler e ser lido, ser o ouvido, informar-se aos goles mastigados, observar o gado, guiando propriedades ilusoriamente claustrofóbicas, muitas vezes, financiadas em até 60 meses.
E passam-se os ônibus! É engraçado como estamos sempre querendo viajar, sempre à iminência de obedecer a uma misteriosa força perdigueira. E os ônibus passam! Tripudiam a carência que escorre do canto da boca aberta. Passam vazios, lotados, curiosos, limpos, sujos... param quase em cima da gente. E dá vontade de penetrá-los! Pois a vida não foi feita para esperas e nem demoras. Já entrei em muitos e nunca me arrependi. Quando se tem coragem, certas doutrinas caem por terra e é revelada a recompensa das novas experiências.
No ônibus é possível encontrar inteligências para todos os gostos; o silêncio é colorido e randômico; os cheiros atrevidos, arrogantes, perniciosos e concupiscentes ao mesmo tempo, por não serem exalados por regras e nem ordem conveniente. Os olhares são todos os semáforos possíveis, de vastas cores guiando um tráfego frenético de pensamentos. No ônibus tem furto, tem gentileza, tem volúpia e o amor sempre pega carona por passar desapercebido à falta de “autoridade”. No ônibus você ri, chora, dorme. No ônibus a viagem nunca é a mesma, tem sempre uma expectativa do bem ou do mal. O ônibus te leva, te busca e te entrega, onde quer que você queira. Do ônibus se esquece, se lembra, se quer a chegada, quase de graça, sem satisfações. No ônibus se entra: em uns, por traz, em outros, pela frente. Não se pede permissão para pegar. Aquele que você quiser, vai te levar às suas escolhas, as quais, provavelmente, o habitual não levaria.
E é “nele”, não como boi, mas como águia, que se conclui: o “transporte” deveria ser feito somente pelos ônibus, mas com uma condição: que seus usuários deixassem de ser, somente, malotes de carne e osso de um lado para o outro e aprendessem a aproveitar a vida que não se tem naquilo que é o sonho da maioria das pessoas: a posse e o cárcere do “carro próprio”. Onde o diálogo é menor ou nulo, onde o calor é condicionado e geralmente se está só. Se goza só, sob a apólice de seguro das poucas liberdades.
Eu tenho carro próprio, mas me dá saudade de andar de ônibus.



Marcos Gacê

Revisão: Marçal Filho