Ruiva! Media 1,67m. Tinha um longo pescoço sustentando
aquele rosto oval, impregnado de olhos verdes, cheio de bocas nas mais variadas
condições de oratória e destreza física. O nariz seccionava um lago de sardas
charmosas – adorno meio Art Nouveau que
fazia jus à classe de sua concupiscência. Quase infantil no abraço, sem deixar
nenhuma possibilidade de pedofilia. Corpo esguio, branco, tatuado por aquela
mesma espécie de sardas que eram seixos no leito dos seios, dos quadris e do
púbis. Um cheiro para poucos – se existe pecado, este seria, expor a olfatos de
senso comum, tal iguaria aromática rara. Louca por literatura, filmes italianos
e franceses, Chet Baker e Chiquinha Gonzaga. A perfeição, forjada
de defeitos pervertidos. Eu sempre tive um fascínio pelas ruivas, talvez por
não serem as minhas preferidas e, os paradoxos tem lá seus domínios sobre mim. Seu
nome? Recuso-me a dizer - não é nada oneroso para esse conjunto na mulher que
roubava minhas respostas e as escondia entre as trincheiras do cabelo longo, no
aconchego da boca e na insanidade da vulva. Certas mulheres não carecem de
nome, porque não carecem de chamado. Elas sentem o cheiro de sua urgência, como
“Ela” sentiu o meu naquela tarde de maio sem ano.
Balbuciava Nina Simone,
acho que era Feeling Good, quando
saiu do banho ajeitando a toalha sobre os seios. O cabelo era um tronco
retorcido, nascendo das costelas e abraçando o pescoço. As gotas de água
deslizavam sobre a pele como carinho de mão. De repente tudo parou e ela aconteceu
nua sobre mim e sobre todas as horas do resto daquele dia.
Então veio a gravidez. Era inevitável e preciso. Os sintomas
começaram a aparecer meses depois que “Ela” sumiu no mundo, sem dar notícias.
As dores começaram a ficar mais fortes e as contrações pareciam ondas
gigantescas impondo uma nova geografia, preparando a existência para receber
uma dádiva – o fruto de uma paixão que não deve ser condenada por ter sido tão
efêmera – ela era a compilação de uma vida inteira na beleza de poucos dias.
Entrei em trabalho de parto, fechei os olhos e me confortei nos sentimentos e
sensações, que eu havia vivido com ela meses atrás, ainda impregnados em meu
corpo, e dei a luz à minha filha mais querida. Simples. Linda. Saiu de mim já
com letra e melodia e atende pelo nome de “Ilha-me”